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No ensejo da comemoração dos 305 anos de Cuiabá, resgatamos o enlace de Dom Aquino Corrêa com a cidade de Cuiabá e o aniversário no dia 8 de abril. Dom Aquino Corrêa, ou melhor, Francisco de Aquino Corrêa, nasceu em Cuiabá em 2 de abril de 1885 e desde cedo envolveu-se com os estudos e desenvolveu a sua vocação religiosa. Negligenciando intencionalmente neste artigo os seus primeiros anos de vida, queremos apresentar inicialmente o seu envolvimento religioso e a dedicação à Igreja Católica. Foi com o seu brilhantismo intelectual que a sua trajetória fulminante começou ainda aos 19 anos, quando mudou-se para Roma e aos 23 anos tornou-se doutor em Teologia. Retornando a Cuiabá, foi diretor do Liceu Salesiano São Gonçalo e, em 1915, aos 29 anos de idade, o Papa Pio X o tornou o bispo mais novo do mundo.

Dom Aquino Corrêa participou ocasionalmente da política, com uma gestão notável para Mato Grosso e para Cuiabá. No ano de 1917 o Estado de Mato Grosso passava por uma grave crise política. Nesse contexto, o Presidente da República, Venceslau Brás (1914-1918), decretou a intervenção política e em acordo com os dois maiores partidos (Partido Republicano Mato-Grossense e o Partido Republicano Conservador), Dom Aquino Corrêa foi escolhido como o Presidente do Estado, e empossado em 22 de janeiro de 1918 com o propósito de ser um elemento conciliador na política local. Coincidentemente, no ano seguinte a sua posse (1919), completariam duzentos anos da descoberta de ouro nas margens do rio Coxipó pela comitiva do bandeirante paulista Pascoal Moreira Cabral.

O que Dom Aquino Corrêa tem a ver com o aniversário de Cuiabá? A resposta estaria na decisão dele, como governante do Estado, em comemorar no ano de 1919 o bicentenário de Cuiabá. Resolveu escolher o dia 8 de abril por ser a data em que foi lavrada por Pascoal Moreira Cabral (1719) a Ata de Fundação de Cuiabá. Paira entre alguns historiadores a tese de que 8 de abril não seria a data mais coerente para o aniversário de Cuiabá, mas sim, o dia 1º de janeiro, isso porque foi nessa data que o arraial foi elevado à categoria de vila (1727), a Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Afastando-nos das opiniões sobre a data mais coerente, é notável que as comemorações do bicentenário de Cuiabá trouxeram um forte simbolismo e o empoderamento da cidade como a capital do Estado, afastando as pretensões de transferência da capital para Campo Grande. Como parte dos festejos do bicentenário, Dom Aquino Corrêa realizou intervenções urbanas com o intuito de embelezar e civilizar a cidade, reafirmando sua importância histórica e política. Estabeleceu tradicionalmente o dia 8 de abril como o aniversário oficial de Cuiabá, o qual comemoramos ano a ano.

Não há dedicação sem amor e foi por amor que Dom Aquino Corrêa dedicou a vida a sua cidade natal. Além das suas ações políticas, religiosas e administrativas em prol da cidade, Dom Aquino Corrêa, como figura intelectual e literário (Membro da Academia Brasileira de Letras), escreveu poemas em homenagem à cidade. Dentre os seus inúmeros poemas vale destacar o que você talvez não saiba, que é o poema que dá origem a referência de Cidade Verde a Cuiabá. No poema Cidade Verde, escrito na obra Terra Natal (1919), ele enaltece a beleza da sua cidade: “Sob os flabelos reais de mil palmeiras, Tão verdes, sombranceiras, E lindas como alhures não as há, Sobre alcatifas da mais verde relva, Em meio a verde silva, Eis a ‘cidade verde’: Cuiabá!”

No dia 12 de outubro de 1951 foi realizada uma concorrida Sessão Solene pela Câmara Municipal de Cuiabá para prestar homenagem ao então Arcebispo Dom Aquino Corrêa. O vereador Severiano Benedito de Almeida sintetizou quem era o homenageado para a população cuiabana “(É) o expoente máximo da nossa terra, pelos talentos, pela cultura e sobretudo pelas virtudes peregrinas que lhe exornam o coração. Estou certo, por outro lado, que nenhum preito lhe soaria tão grato ao ouvido e ao espírito como este que lhe tributa a sua querida cidade natal, a Capital Verde, imortalizada em seus versos aqui representada, neste momento, pelos delegados da confiança popular, sem distinção de matizes políticas ou religiosas, antes irmanadas no mesmo sentimento de reverência e carinho para com o grande filho de Cuiabá. Nessa sessão, já com 66 anos de idade, percebe-se a gratidão da população de Cuiabá com o seu filho ilustre, talvez o mais destacado dentre outros tantos filhos da nossa terra. O arcebispo faleceu poucos anos depois, em 22 de março de 1956.

A trajetória de uma vida de dedicação a Cuiabá nos traz a obrigação de atentar para a nossa Cuiabá. Devemos nos unir com o propósito fim de viver em uma cidade com cidadão felizes, agraciados pelo bem-estar, pelo bom viver. A Câmara Municipal de Cuiabá é o coração da cidade, como afirmou o arcebispo a sessão solene. Esta graciosa referência nos faz entender a importância da Câmara Municipal e dos seus vereadores, que convidam todos os apaixonados pela cidade a contribuírem com ela, dia a dia, para o bem de todos nós. Feliz Aniversário Cuiabá!

Danilo Monlevade - Analista Legislativo

Fontes:

MARIN, Jérri Roberto. D. Francisco de Aquino Corrêa e a construção da identidade mato-grossense. Belo Horizonte: PUC Minas, 2018.

https://www.academia.org.br/academicos/aquino-correia-dom/biografia (acessado em 4 de abril de 2024)

Livro Ata nº 62 – Arquivo Geral da Câmara Municipal de Cuiabá

https://educagil.blogspot.com/2019/04/poema-cidade-verde-dom-aquino-correa.html (acessado em 4 de abril de 2024)

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