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23/06/2017
MEMÓRIAS DO LEGISLATIVO CUIABANO
Divulgação
Fachada do 44º Batalhão de Infantaria Motorizada de Cuiabá

Vereador cuiabano revela bastidores da "Revolução" de 1964


No dia 31 de março de 1967, a Câmara Municipal de Cuiabá realizou uma Sessão Especial a fim de comemorar o 3º aniversário da "Revolução" de 1964. A Câmara Municipal, nesse período, contava com uma maioria de vereadores filiados à Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido político que seguia a linha ideológica do governo militar. Segundo os vereadores cuiabanos, a Revolução trouxe estabilidade política ao país, garantiu a democracia e pôs fim à temida ameaça de instalação de um Estado comunista no Brasil.

A vereadora Maria Nazareth Hahn, em uma sessão anterior, deixa evidente o apoio e o apreço dos vereadores pelo novo regime.

"Estaremos ao lado do espírito nacional, que por vocação inata e democrática, de cuja atitude cívica atual surgiu a benemérita Revolução de 31 de março de 1964, cujo evento vem dando com eficiente prudência e segurança, a restauração moral e administrativa do país, fixando com firmeza nesta hora, uma nova etapa promissora de respeito internacional à pátria e à família brasileira’.’ 
Escolhido pelos pares para ser o orador na Sessão Especial, o vereador Estevão Torquato da Silva, que era Coronel do Exército Brasileiro, trouxe valiosas informações sobre o movimento revolucionário. Inicialmente, o vereador valoriza o papel político das Forças Armadas na História brasileira.

"Estiveram elas (Forças Armadas) sempre ao lado do povo, seja apoiando suas reivindicações ou à elas se antecipando, ou seja, ainda se opondo a grupos político-econômicos dominantes, que intentassem explorar sua boa-fé ou atraso. Desta forma, vem colaborando para que o Brasil solucione democraticamente os grandes momentos de sua evolução social, enquanto outros povos o fizeram e ainda o fazem em dramática situação".
O vereador Torquato afirma como era dramática e assustadora a situação política anterior àquela Revolução, abalada por uma série de intempéries, como a renúncia do Presidente Jânio Quadros e a posse do seu Vice João Goulart, que desenvolvia uma política trabalhista e popular, com um viés aparentemente comunista, acusavam os seus adversários.

“Através das organizações estudantis e de elementos influentes, no Ministério da Educação e nas Universidades, controlavam todo o ensino do país, constantes crises eram por eles provocadas, comandos sindicais, milícias comunistas como a GGT (Central Geral dos Trabalhadores) e Ligas Camponesas e as Atividades do Grupo dos 11, desenvolviam intensa atividade subversiva, ora nas cidades, ora nos campos, preparando a motivação da última fase da guerra revolucionária, que a essa altura já se desenvolvia em fase bem adiantada. Restava marginalizar as Forças Armadas, obstáculo mais difícil para a concretização dos seus objetivos subversivos, com a tentativa de aliciamento dos Praças para enfraquecer a autoridade dos Oficiais e minar a hierarquia e a disciplina."
A partir de então, segue-se um relato pormenorizado dos fatos que antecederam à data da Revolu-ção, em especial, a ação dos militares do 16 BC (Batalhão de Caçadores), em Cuiabá. Para a devida compreensão, transcrevemos o seu discurso.

"Desejo deixar consignado aqui, como foi a participação nesse movimento do 16 BC, lídimo representante da gente cuiabana. Nos primórdios de 64, servia eu ainda naquela unidade, e a agitação reinante no país nos inquietava. A chegada do novo comandante, o Cel. Carlos de Meira Mattos, serviu para aglutinar as nossas forças e orientar melhor as nossas aspirações.

Traçou-se toda a operação que seria executada pelo Batalhão, e que recebeu o nome de Operação Brasília. O Cel. Meira Mattos fez reunir os sargentos colocando-os a par da situação, relatando o pensamento da oficialidade do Batalhão em aderir ao movimento prestes a irromper, e que todos confiavam irrestritamente na conduta dos sargentos do BC, que não poderia ser outra, que a do cumprimento das ordens emanadas do comando do 16 BC. No dia 31 de março à tarde, regressa a Cuiabá o Cel. Meira Mattos, e já a essa hora já estávamos sabendo que algo de anormal se desenrolava em Minas Gerais. Recebendo ordens da 2ª Brigada Militar, o 16 BC entra em regime de sobreaviso, e em seguida de prontidão, era a eclosão do movimento revolucionário e o batalhão aprestava-se para desencadear a Operação Brasília. Nessa mesma noite, o Cel. Meira Mattos constituiu o seu Estado Maior: Chefe do Estado, o Tenente-Coronel Caraciolo A. de Oliveira Encarregado da segurança interna de Cuiabá, o Major Otiles Moreira Segurança externa, o Major Octaíde Jorge da Silva Oficial de operações, o Capitão Eurides Curvo  S/1, o Capitão, Guilherme Marques Batista e Oficial de Informações, o 1º Tenente Geraldo de Oliveira e Silva.

O Cel. Meira Mattos aguardava impaciente  a autorização do comandante da 9ª Região Militar, para que o 16 BC pudesse dar início ao deslocamento, como este retardava, às 9 horas da noite, o Cel. Meira Mattos chama o Capitão Alyrio Cardoso, Comandante da 1ª Companhia, fazendo-lhe ciente que a 1ª Companhia iria fazer a vanguarda do 16 BC, e que ele poderia dispensar os seus sargentos para irem até as suas residências se prepararem, contanto que até às 24:00 horas estivessem de volta ao quartel. Necessário se faz frisar que até aquela hora, o sucesso do movimento era duvidoso, pois ele contava apenas com o apoio de Minas Gerais, já que São Paulo e Goiás não haviam ainda se definido. Às 2h da madrugada do dia 1º de abril, a 1ª Companhia de Fuzileiros, já em completa ordem de marcha, iniciava o seu deslocamento depois de receber no pátio do Batalhão as palavras incentivadoras do Cel. Meira Mattos, fazendo-os cientes da responsabilidade da decisão que o Batalhão estava tomando, e esperava encontrar a valorosa 1ª Companhia, breve em Brasília.

A 1ª Companhia, na manhã desse dia atinge Rondonópolis, e lança um pelotão à frente para ocupar Alto-Araguaia na fronteira com Goiás, ainda na madrugada do dia 1º às 6h, o Cel. Meira Mattos re-quisita um avião da Vasp, e às 14h faz deslocar para Jataí, em Goiás, um pelotão da 2ª Companhia de Fuzileiros, comandada pelo 2º Tenente Dílson Paes do Nascimento, a fim de ocupar aquela cidade e assegurar o desembarque aéreo do restante da 2ª Companhia, que começou a ser feito no próprio dia 1º.
Assim, 48 h após o início das operações, o 16 BC tinha o seu PC (Posto de Comando) avançado já em Goiânia, e às 3 h de transporte rodoviário da capital federal. Na madrugada do dia 3, há a fuga do Presidente da República para Porto Alegre, e na manhã desse dia o Comando do 16 BC e sua comitiva chegam a Brasília, acertando a concentração na capital federal de todo o efetivo do 16 BC. Nesse mesmo dia, é ordenado o deslocamento do restante do 16 BC para Brasília, dentro do esquema pré-determinado, modificando-se apenas a substituição do Major Otiles pelo Major Octaíde no controle da segurança interna de Cuiabá. No dia 4, todo o 16 BC estava em Brasília, sendo a primeira unidade do Exército a atingir a capital federal, após um deslocamento de 1.200 km."
Ao finalizar o seu discurso, o vereador Estevão Torquato da Silva solicitou um requerimento, no sentido de que fosse apresentado um voto de congratulações ao 16 BC, e ao Coronel Carlos de Meira Mattos, pela passagem do 3º ano da Revolução Brasileira.

Declarada livre a palavra, o vereador Valdevino Ferreira de Amorim requereu para que fosse transcrito nos Anais da Câmara o discurso pronunciado pelo colega Estevão Torquato, "que refletiu muito bem o espírito da Revolução". Ressaltou ainda, que "os revolucionários precisam fazer a História do registro dessas efemérides, e hão de ver que a Casa compartilha dos ideais da Revolução de 1964". A  Presidência, em nome da Câmara, expressou ao povo a confiança inabalável nos destinos do Brasil, e "conclama todos ao trabalho e à ordem, com mais compreensão entre os homens de boa vontade, e mais justiça social." Não havendo mais nada a tratar, a Presidência encerra a sessão especial.

Essa "Revolução" desencadeou um longo período de ditadura civil-militar no Brasil, governando-se através de medidas administrativas e (i)legais que aboliram o Estado democrático, restabelecido 25 anos depois com o movimento das Diretas Já. O texto demonstra as ideias construídas pelos políticos da época, que viviam sob um estágio de alerta diante da ameaça comunista, que era propagandeada como um grande mal à família e à Pátria. 

Rubens Ribeiro
Coordenadoria de Cultura e Resgate Histórico da Câmara

Fonte: Ata de registro das sessões da Câmara Municipal de Cuiabá, de 26 de dezembro de 1966 à 8 de abril de 1967. (Acervo da Coordenadoria de Cultura e Resgate Histórico/CMC).





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